14 de outubro de 2011

Passam

vidros e janelas
copos e luzes e sons e panelas
e céu e sol e manhã
e o amanhã
e plásticos, máscaras, bolhas e lágrimas
batons e conversas e facas afiadas.
e remédios, beijos e letras...
e gritos e ritmos e pássaros e tiros
e palavras jogadas.
Travesseiros, quadros e roupas
e camas e pés e música
e o chão e o pão e a luz.
e o grito, a nuvem e a mão
e a água, o mar e a cruz
e eu.

29 de agosto de 2011

A Deus

Eu devolvo a vida.

Devolvo à vida, tudo que me foi consumido.
Ávida do tormento que me foi permitido.
Acabam-se as dores do mundo
e a minha.

O parto reverso de saída
Serei parida para dentro de tudo.

A minha
placenta de concreto definha.

Abre-se a Mãe para me receber
e me envolve nos lençóis de água.
Meu corpo é o que agora
alimenta esta morada.

O olho, a boca e a mão de despedida,
carimbam o corpo e a alma dos meus,
não deixo nenhum bem, que não estes versos.

O remédio infalível para a dor
é o son(h)o profundo,
então Adeus.

12 de abril de 2011

Sati

I.

Toque

do

despertador.

Desperta

dor.


II.

A

Boca

molhada

do

oco.


O eco

se dá

por um

triste

começo.


Por

um triz

te olho.

"Olhais a ti

no espelho?"


III.

A

mordaça

fúnebre.


IV.

Amor,

dá-se um

fim a mim

que não

reconheço.


Amordace

minha boca;

e o aniversário

deste casal,

é a boda de morte

que o vento

nupcial

sopra as sobras

da sua

sorte.


Entrelaçados,

entre laços

de sangue

que verto

digo que:

Agora dá-se

o fim.


Ou

um novo

começo..

17 de março de 2011

A Passagem

Lá fora nada está bem...
aqui dentro também...

Busco em todos os rostos
mas não encontro o que procuro.

Procuro? Solidão!

Procurar é o solitário ato de afirmar que não se tem o que se quer.

Ausência

Ai lágrimas, já passaste por aqui pelo que me lembro.
Tuas visitas não fazem falta!

Nada muda - nunca.
Não nos entristeçamos com os fatos da vida, sim?

O sono profundo da paz - a morte.
O que olhas? Teus olhos te enganam meu amor.
Me enxergaria melhor com as mãos.
Me ouviria melhor com a boca.

A ausência de algo desconhecido é o que inquieta a minha alma.
Eu tenho tanto nada que não sei o que fazer com tudo isso.

Extirpa a minha fome de procura e que eu saiba apenas esperar.

Ai vida....que o gosto da espera passa mais lento na boca cansada.
E que me entorpeça o sono por anos para esperar-te.

Espera? Solidão

Espera então a tua hora...
que ela além de não tardar é a tua única certeza.
Viva com essa certeza.
...porque com ela morremos também!

11 de março de 2011

Ânsia

Os meus olhos estão tristes

Vejo tanto e nada me agrada

...falta

Vejo nada e tudo me falta...de qualquer forma tudo me falta, sempre

é tão ralo e transparente

Como afogar nas cores a minha dor e o meu desespero de sempre

querer mais

sozinha


Que se caiam os meus olhos após lavados pelo sal

é tão triste e tão lento

Suicidamente ridículo, sem a menor arte

Os olhos não mentem e por um segundo precedem atentos

A morte

e sentem...como a cabeça vazia, uma caixinha vazia

a cabeça é vida

Agora vazia


Implodida

...sem ar

A pressão do ar está menor que a das cores

Vazio é bom pois está a espera de algo que o preencha....

nem sempre....


Nem sempre é preenchido


A humanidade está toda viva-morta

E na sua singular assassina rotação

Onde eu já não possuo mais orbita regrada

nem vontade de nada.


Amputa minha dor de espera

ânsia

Exorta meu coração dessa caixa vazia

Desesperansia.


E que toda essa pequeneza que me corrói, viva, pois

algo...pelo menos algo tem que estar vivo dentro disso aqui

Enquanto o que me servir de inspiração for a dor e falta de amor

Que tudo caia que nada mais me importa.