29 de agosto de 2011

A Deus

Eu devolvo a vida.

Devolvo à vida, tudo que me foi consumido.
Ávida do tormento que me foi permitido.
Acabam-se as dores do mundo
e a minha.

O parto reverso de saída
Serei parida para dentro de tudo.

A minha
placenta de concreto definha.

Abre-se a Mãe para me receber
e me envolve nos lençóis de água.
Meu corpo é o que agora
alimenta esta morada.

O olho, a boca e a mão de despedida,
carimbam o corpo e a alma dos meus,
não deixo nenhum bem, que não estes versos.

O remédio infalível para a dor
é o son(h)o profundo,
então Adeus.

3 comentários:

Christina disse...

Incrível... Estou sem palavras, mais uma vez... A Deus...Adeus. Gênio.

Anônimo disse...

Um dos melhores poemas de despedida que já li. Uma vida em fusão. O eu se vai, o poeta existe.

disse...

Muito bom, hein?!
Ainda bem que você começou a escrever na vida.

Ainda bem que você começou a escrever a vida.

Ainda bem que você começou a escrever ávida.

;-)

Um beijo, querida!