30 de outubro de 2009

Cansei

Havia um ''Q'' de libertação naquela noite, naquela brisa refrescante (já que nossa pele estava em brasa).
Houve uma abertura da minha parte,
e também uma ausência..aquele espaço estava recheado da sua ausência
mas tudo bem, de verdade, no final das contas eu já estou acostumada.

E tive uma vertigem de pedra, pedra cinza e grossa que é arremessada no oceano.
Uma pedra que vai caindo e sendo sugada pela gravidade tão rapidamente que, em pouco tempo fica aconchegada entre os grãos de areia.
Está tão longe da superfície que esquece de si mesma.

Soneto da Resposta

Olha só aonde chegamos
Nós dois em meio ao mar dos prédios, dos concretos
Nas pontas, em cada beiradinha nos agarrando ao poste do silêncio
Onde as palavras ainda não despontam do peito direto para a garganta.

Seria melhor tentarmos simplismente seguir
Mas precisamos um do outro, de forma que ainda não entendemos
Sentirei um comichão no estômago que sobe tanto que tira-me a voz
Minha expressão não será outra que não fulgurosa de felicidade.

E mesmo que fiquemos parados, e não movamos um fio de cabelo
Esse sentimento se conservará, mesmo que em nossa memória inventada
E dentro de nós estaremos enamorados e apaixonados.

E todos os sinais só enchem-me de cores
Espero ansiosamente tua brancura deixar-me colorir-te o corpo
E assim podemos escrever nossa história, nossa ciranda de mãos.

27 de outubro de 2009

Madeirão

Ele era meio grisalho, uns 45 anos no máximo. Não era bonito, mas tinha um charme inconfundível, uma inteligência afrodisíaca; sua estatura era média, nem alto nem baixo, nem gordo nem magro, mas trazia nas mãos um erotismo magnético, seu corpo todo era magnético e quente, como se tivesse uma força de atração inevitável.
Eu ficava na espreita, por detrás das cortinas, das falas subjetivas, do medo da rejeição e dos olhares cheios de vontade e ao mesmo tempo que queria escalar-lhe o corpo rasgando-lhe aquela carne de estátua que eu tanto admirava, gostava daquele sentimento que era só meu, nem dele era, era sim só meu, escondido em mim; só eu sabia dos meus olhos saltados e da minha pele que se arrepiava toda quando ouvia sua voz chegando mais perto. Só eu sabia o quanto a sala ficava apertada e abafada quando ele chegava perto.
Hoje, quando você pegou na minha mão, meu coração palpitou tão forte que acho que todos ao redor puderam ouvir e rasgou-se no meu rosto um grande sorriso que queria desfarçar os dentes, pouco faltou para esse sorriso se fechar e junto a sua boca, poder sentir a sua respiração e a sua voz de comando para que eu derretesse e me entregasse ali mesmo, na frente de quem quisesse ver e ouvir. Eu ja tinha me entregado.
Mas ao me tocar, senti sua mão fria e me deu mais vontade ainda de não soltá-las mais, até que você ficasse com o meu calor empregnado em você; nas suas mãos frias e eroticamente magnéticas.
E nos soltamos no vácuo.....

26 de outubro de 2009

Mãos

Você estoura em mim,
a maior das antíteses
o pior das paixões.
Pensar em você é renegar á paz, ao sono....
Mas você por si só já é a própria negação de tudo, a anulação.
O seu beijo é o mais doce da boca que nunca beijei
É o sonhar de olhos abertos mais gostoso que sonhei.
E as suas palavras, que eu mesmo crio são as mais lindas das cantigas de amor.
Você é a indiferença mais diferente e a espera mais sem esperanças que alguém pode ter.

E a nossa ciranda de mãos?

15 de outubro de 2009

Vazio

Que estranho...
Poucas foram as vezes que eu me senti ''por um fio'' de mim mesma
No final, parece que tudo que eu fiz foi pouco, foi fraco..mas de alguma forma, bastou.
Bastou pra ser medíocre, não iria querer mais que isso.

Já disse que não gosto....
Já tentei me convencer de que não gostar, não resolve
Já não gostei de resolver coisas por estar convencida de que era preciso.

Que estranho...
Mesmo agora, eu percebo que no fundo é sim preciso
fazer coisas que não se gosta....estar obrigada mesmo.
Assim eu saboreio com mais prazer cada partícula de ar...de estar enfim, livre.
Quanto mais for tortuoso esse caminho..mais eu agradecerei quando ele acabar.

6 de outubro de 2009

Eu Jurei Que Aquele Seria O Último Poema de Amor

A chama que em você arde
Me chama e inflama as entranhas
Que não querem ser queimadas


A cor do fogo dos seus olhos
Queima em mim a vontade
De ser chamada


As chamas que queimam
Também queimam a carne que inflama
E não quer mais apagar


Os delírios vermelhos
Não te chamam mais pra mim
Mas eles não fazem, senão queimar


Me chama e inflama
Fazendo com que a chama
Se deixe queimar


E assim você me chama
E assim você me chama
E assim você me chama

A Janela

Por volta das 4:30 da madrugada, onde a insônia agredia os sonhos de Helena e seus olhos pareciam estar se enchendo de areia, ela resolve olhar as estrelas pela janela de seu quarto, como sua cama é colada á parede, vira seu corpo para o lado contrário e fica de frente para a janela.Seus movimentos são silenciosos para não acordar Artur que dorme na mesma cama. Por fim, seus pés estão no seu próprio travesseiro e ela abre a janela que grunhe.
Após alguns minutos, Artur acorda e vê seus pés, beija-os, verifica se Helena está dormindo, ela sorri e o convida a se deitar do outro lado da cama junto a ela.
Artur percebe que Helena olha fixamente para a Lua e está com seus óculos. Ele comenta – Nossa faz tanto tempo que você não usa esses óculos, você fica linda com eles.

Ela o beija docemente e volta seus olhos para a janela aberta, ele pergunta porque ela está tão fixa olhando a Lua, ela responde que mais uma vez como não conseguia dormir, veio olhar as estrelas; então pegou seus óculos para miopia e na janela se deparou com muitas nuvens, nenhuma estrela e uma Lua.
Artur beijou seu pescoço e disse que via uma bem á sua frente, a estrela mais linda de todas.
E lá estava ela, grande e branca, iluminando tudo a seu redor, sozinha. – Quando eu era pequena, dizia que guardaria “todas” as luas em uma caixinha. Helena brinca com a ilusão de óptica fingindo pegar a Lua com os dedos.Artur passava a mão em seus cabelos como que para prendê-la pois sentia ciúmes da forma com que Helena se referia aquela simples paisagem. - Engraçado como ela está aqui todos os dias, cercada por estrelas e consegue ser sempre chamativa, bonita, reflexiva.
O medo de Artur começava a fazer com que ele sentisse Helena partindo - Ela ficava sempre acordada pensando. No fundo sempre surgia uma preocupação, mas hoje fora diferente, ela colocou seus óculos, sentia que ela queria fugir daquele quarto por aquela janela.
Então a abraçou, virou seu rosto banhado pela luz da lua para si e enquanto dava-lhe um beijo fechou a janela, usando o pretexto de que estava muito frio. Ela virou-se novamente para ver o céu pois a janela de nada adianta ser fechada já que é transparente, então Artur tirou seus óculos e a beijou novamente.
Percebendo talvez sua agonia, ela pôs seu corpo junto ao dele e apertou sua mão; não como quem cede mas como quem está sendo arrastado pela correnteza, por aquela correnteza azul do céu e ouviu-se de seus olhos a despedida. Artur nesse mesmo instante a abraçou forte e a beijou longa e apaixonadamente.

Olharam para a janela e tudo que viram foi uma luz branca por detrás das nuvens. Ela o olhou e disse – Já foi embora, já passou. Não era em tom apaziguador, era aquele tom da mãe dizendo para o menino assustado que o “bixo-papão” fora embora.

Naquele momento, os dois tinham uma coisa em comum, por motivos opostos, a batida de seus corações oscilava entre a dor e o alívio; e sem saber o que se passava na cabeça um do outro, pensavam sozinhos: ‘’Mas amanhã ela volta’’.